O Ultimo Dia!

Nem podia acreditar, hoje, 14/03/2010, seria o meu ultimo dia de pedalada. Apenas 175Km me separavam da cidade de Buenos Aires.
Havia passado uma noite maravilhosa, não que eu tivesse feito ou visto algo diferente, mas sim pela paz de saber que àquela autura quase nada poderia me impedir de tirar minha foto no Oblisco, objetivo final da viagem.

Apesar do Hotel ser de três estrelas, a recepcionista nao me acordou às seis como pedi. Pela primeira vez, porem, acordei sozinho. Ao constatar que o sol ja tinha nascido repeti algumas vezes para mim mesmo: "É o último dia! É o ultimo dia! POR FAVOR, é o ULTIMO DIA". Trouxe à mente todas as manhas que dormiria até mais tarde, as horas que passaria sentado num sofa e as sombras e ventiladores dos quais desfrutaria em breve até que consegui, com muito esforço, unir forças e me levantar às 7:00hs. Ufa, que vitoria!

Acordar cedo foi sempre uma luta e antiga. Já perdi inumeras aulas e até prova por causa disso. Dos 20 dias de pedaladas, apenas quatro me levantei antes das 8:00hs e foram os melhores dias de estrada que tive. De manha o tempo passa mais rapido além do sol estar mais fraco. Sabia disso o tempo todo, mas nao tinha jeito, a cama sempre me vencia.

Començando o dia já com uma vitoria significativa para mim, arrumei a mochila e tomei o cafe 3 estrelas. Apesar de ser cedo, o tempo estava corrido. Tinha três museos e a Vuelta del Obligado, ponto turistico 30Km distante, que eu queria visitar. Animado para começar o dia encontro a Alvorada com o pneu furado na garagem. Tudo bem, deixo a bike numa bicicletaria colando enquanto visito os lugares. Ótimo plano e iria funcionar muito bem se não fosse domingo.

Aqui na Argentina tudo fecha de 12hs as 15hs e nos domingos. Lembro-me do primeiro dia em que cheguei em Puerto Libertad e tive a impressão de estar numa cidade abandonada. Comercio todo fechado, ruas vazias e silencio. Agora no ultimo dia me encontro de novo no mesmo cenario, porem, com pouco tempo. Sem escolha, abri a moclila para arrumar eu mesmo o pneu até que tenho a segunda surpresa, as cameras de ar reservas estão furadas e a cola com os remendos sumiram. Ótimo! Estou no meu ultimo dia, querendo apenas pedalar para chagar ao Oblisco, e nao posso. Uma leve impaciencia começa a surgir. Depois de algumas informaçoes encontrei um borracheiro que a principio me diz "No, no, no. Con bici Yo no trabajo". Mas foi apenas charme, 12 pesos e tinha duas cameras coladas, a principal e a reserva. Vai que fura de novo.

Preciosa hora perdida, aprecei-me para o museo e até que enfim alguma coisa legal. Varios dinossauros e e outras especies jurasticas. Na sala havia o som dos animais, tudo muito "copado". Comprei dois chaverinhos de lembrança.

Infelizmente esse foi o unico lugar que consegui visitar em San Justo, já que era domingo e os outros dois museos estavam fechados. A Vuelta del Obigado estava muito longe e me tomaria três horas para visitá-la. San Justo, outro lugar que tenho de voltar para terminar de conhecer.

Finalmente, estrada. No caminho cruzo uma plantação de rosas e lembro da Juliana, tanto tempo sem vê-la, depois eu penso nisso. Uma vez direcionado para Buenos Aries começo a dar conta de uma traição. O vento que tinha me ajudado no dia anterior me virou as costas e a ruta asfaltada se transformou no pior trexo de todo o caminho até então. Não é possivel, estava contando com aquele vento bom e o asfalte de tapete. Não consigo entender essa Argentina, quando quero desistir ela não deixa e quando vencer ela também tenta impedir. Qual será a desse país? Meu rendimento caiu drasticamente, eram 11:30hs e nesse ritmo demoraria, pelo menos, o dobro do tempo para chegar. Mas nao importa, que a estrada fosse de terra e o vento com chuvas totalmente contra, já havia decidido que hoje chegaria à Ciudad de Buenos Aries.

Depois de uns 40Km a estrada volta a ficar como antes e o vento dar uma melhorada. Perfeito, estou a 100Km de Bs As, meu amigo me espera em sua casa, a bateria está carregada. Só questao de tempo. Continuo pedalando, 80Km de Bs As, 70Km, 60Km, estou muito perto até que... "roim, roim, roim...", a caixa traseira estorou.

Para isso eu nao estava preparado, tentei pedalar o que faltava daquele jeito, mas era impossive. Olhei a estrada a minha frente, tudo favoravel, pensei em alguma solução, mas nao encontrava. Se fosse pelo menos outro dia da semana eu poderia ir a uma loja de bicicletas, mas domingo estava tudo fechado. Tentei comprar uma roda de algumas pessoas que tinham bicicleta e estavam no caminho, mas ninguem aceitou. Nao tinha outra solução, teria que esperar mais um dia ou pegar um onibus. A primeira nao podia ser, havia colocado na cabeça que chegaria em Bs As hoje e assim seria, alem do mais, o Carlito me esperava. Depois de 1690Km, tao perto do meu fim, me vi forçado a desistir. Nao me considerava com a meta perdida, pois faltava tao pouco e um defeito irreversivel para um domingo. Seria apenas um "atalho", pois eu teria coseguido.

Pela primeira vez pedi carona, mas ninguem parou então entrei em Campaña, já na provincia de Buenos Aires, para me dirigir à rodoviária. Na cidadizinha tentei comprar a roda me mais algumas pessoas, mas ninguem aceitava. Nessas tentativas de comercia me informaram aonde morava um "bicicletero", quem arruma bicicleta. Fui até la e conheci uma familia nota dez. Conversaram comigo, me deram suco, ofereceram comida e me presentiaram. Fizemos uma roda em volta da Alvorada com a roda toda desmontada. O bicicletero tentava consertá-la, mas estava dificil. Minha bike é de rolamento e lah nao tinha rolimã. fizemos uma gambiarra e deu certo, porem, outro problema surgiu. O cubo havia espanado e o piao nao entrava. Tentou-se inumeras vezes enroscar e a cada tentativa eu o acompanhava mas no final sempre nos frustravamos. Segunda opção, trocar todo o cubo, mais três horas de trabalho. Todavia, o bicicletero se ausentou e voltou com algo em sua mão. Torci para que fosse o que eu estava pensando. Uhuh! Uma ferramenta para fazer rosca. Era cedo para comemorar, precisavamos saber se daria certo e.... Voia là, Alvorada, a Bicicleta da Gambiarra! Todo o concerto durou umas três horas e não tinha mais tempo a perder. Nos despedimos rapidamente. Buenos Aires dessa vez nao me escapa!

Nao me lembro que horas eram e nem exatamente a qual distancia estava. A parti dali não havia mais placas indicando a quilometragem, apenas a direção. Não me importava mais nada, queria chegar logo e a estrada a noite já era um fato. Pedalei muito, bebi toda a agua, comi o que havia, e corria. Concentrava-me na velocidade de minhas pernas para nao perder o ritmo, mas a duvida de saber quantos quilometros faltava me deixava doido. A estrada estava bem iluminada, a pista era tripla com acostamente, as vezes tinha até o acostamento do acostamento. Nas areas urbanas o transito era intenso e eu cortava todos os carros. Olhava as placas e via apenas "Buenos Aires -> ". Quanto ainda falta? As horas passavam, o dia virava noite e minhas pedaladas nao diminuiam. Comecei a sentir falta das placas de Bs As e resolvir perguntar em que cidade estava. "Buenos Aires" Estou em Buenos Aires, a 15Km o Obelisco me esperava e eram 22:30hs. Segui as intruçoes de quem me orientou e ja estava a 5Km do Obelisco. A fome era grande, muito grande e então resolvir comer uma solgadinho e virou uma macarronada e depois mais um pure com carne e quando vi, 00:40hs. Nossa! É muito tarde e estou com muito sono. Nao conheço a cidade e dizem que é muito perigo. Decidir domir num hotel ao lado.
12:00hs o telefone toca, acordo assustado com a hora, quero conhecer a cidade e nao dormir. Almoço para chegar bem humorado e as 15:15hs do dia 15/03/2010 chego ao Obelisco e tiro minha foto. Assim encerro 20 dias de viagens por um pais que nao conhecia. Um pais que até hoje nao sei se gostou ou nao de mim. Um país que nao sabia a lingua, costumes e nao conhecia ninguem. No dia 15 de março de 2010 conquistei meu objetivo.

CONSEGUIIIII!!!!